terça-feira, 23 de maio de 2017

Linchamento virtual também é linchamento.

Linchamento em nome de qualquer causa, seja ela a mais nobre, continua sendo linchamento.

Linchamento é sempre cruel, seja vindo da esquerda, da direita, de baixo ou de cima

E linchamento nunca, nunca é justificável.

Dito isso, quero ainda dizer que esse tribunal das redes me deixa muito indignada e triste, ainda mais quando ele se dispõe a atacar aqueles que estão lutando do "mesmo lado", ainda que de forma atrapalhada ou equivocada, às vezes. O chamado "fogo amigo" é infantil mas, sobretudo, um desperdício estúpido de munição quando há tantas lutas difíceis a travar.

Freud chamava essas pequenas desavenças entre iguais de "narcisismo das pequenas diferenças". É isso o que nos torna mais suscetíveis a odiar os argentinos e não os japoneses, por exemplo. Já os japoneses preferem odiar os coreanos. Curiosamente, nosso incomodo com as diferenças são tanto maiores quanto mais o outro se assemelha a nós. O outro, nesse caso, funciona como uma espécie de espelho que potencializa em seu reflexo aquilo que nos incomoda em nós. Trata-se de um outro que na verdade sou eu. E sabemos que ninguém pode ser mais cruel ao reparar uma espinha na testa do que o próprio dono da testa.

Apenas essa teoria é capaz de explicar o fato de alguns movimentos sociais e/ou de minorias, tão importantes e fundamentais para nossas bandeiras de esquerda, se ocuparem de atacar com mais veemência e contundência aqueles que se apresentam com discursos mais parecidos e mais próximos.
Nos torna capazes, por exemplo, de nos incomodarmos mais com o machismo que comparece numa carta de amor do Duvivier do que na politica defendida por Bolsonaro na Câmara dos Deputados. De nos ocuparmos em problematizar o uso de turbantes por mulheres brancas, num país que mata e encarcera sua população negra sem a menor culpa ou cerimônia. De lincharmos a professora Elika Takimoto por um post que pode até apresentar alguns equívocos na hora de defender a política de cotas, quando temos em curso uma politica educacional que caminha não apenas na direção de acabar com as cotas, mas também com o ensino público superior.

Hoje soube que a tal Reforma Trabalhista, na pauta deste governo de absurdos, resgata a possibilidade de moradia e alimentação contarem como parte do salário do trabalhador rural. Isso se parece com o modelo escravocrata, gente! Isso é bizarro! Inadmissível! Vocês tem mesmo certeza que vão gastar tempo, saliva e o tesão de vocês problematizando as espinhas na própria testa?

E lembrando: linchar não é uma estratégia aceitável sob nenhuma hipótese.

Rita Almeida

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