sábado, 7 de janeiro de 2017

Pouca gente sabe, mas mulher é pra ser feita com cuidado
É aos poucos que a gente vai se juntando
Como não há forma para fazer meninas,
A gente chega assim espalhada
Desengonçada
E logo se depara num desarranjo com a vaidade
Por um apego excessivo ao espelho
E ao amor do outro
Também entendemos logo que, às vezes, doer é a única coisa que se tem
Que sangrar é normal
E que é preciso sobreviver aos banheiros públicos
Ao governo dos hormônios
E à falta de sensibilidade
Mulher é pra ser feita aos pedacinhos
E a gente aprecia os bem pequenos
Especialmente os detalhes desimportantes
Tudo pode servir
Pra preencher esse buraco que carregamos
Afinal,
Aprendemos desde cedo que é preciso tapar o vazio
E só mais tarde, bem mais tarde
Entendemos que o vazio é, na verdade, o que temos de melhor
É nossa graça

Rita Almeida

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