terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Toda vez que pico couve
Me lembro do meu pai
Sempre que eu pedia
ele picava couve pra mim
Com a mão esquerda
Que usava para fazer tudo
Exceto escrever
(Foi obrigado pela professora
a escrever com a direita)

Nos últimos dias
A falta do meu pai
está especialmente presente
Interessante essa ausência/presença,
E meu entendimento
Que a saudade faz a ausência, presente
Já o amor mora ali no intervalo
Entre ausência e presença

Cozinhar me ajuda a fazer meus silêncios
Silêncios necessários
Fundamentais para encontrar comigo
Picando couve me lembrei de meu pai
E das perguntas
que eu hoje gostaria de lhe fazer
Então me veio o vazio
das respostas que ele não pode mais me dar

Mas o amor é um afeto poderoso
Que não mora exatamente na continuidade
Na completude
Na perfeição
Ele emerge exatamente nos intervalos
Nas falhas
Nas frestas que se abrem
No vazio
E diante do vazio
Descobri que, por amar
Sabia exatamente as respostas que meu pai me daria
Eu sabia...

Então, nesse buraco que se abriu
Meu pai veio me soprar pequenas verdades
E o buraco encheu-se de amor

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