segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Em tempos de religiões pervertidas

Rita de Cássia de A Almeida
rcaalmeida@ig.com.br

É numa tentativa de dar sentido ao inexplicável, ao mistério que ronda sua experiência de estar neste mundo que o homem inventa a religião. Diante de suas limitações e atormentado pelas privações da existência mundana o homem busca o infinito: Deus. A religião seria um caminho, um modo de se encontrar e de se comunicar com Ele.

As religiões têm, portanto, a função de transcender a matéria, o imediato, a carne, a materialidade. É um modo que encontramos de nos libertarmos das exigências e limitações de nosso corpo material. Sendo assim, qualquer religião que prometa ser meio para alcançar bens materiais, que se ofereça como ponte de acesso a objetos-mercadoria ou que, pior ainda, meça a fé de alguém pelo tanto de dinheiro ou bens que ela é capaz de ofertar é, antes de tudo, uma religião pervertida.

Não há dúvidas de que o acesso a uma vida digna e minimamente confortável é um direito que convém a todos, mas isso não é função das religiões, para isso temos (ou deveríamos ter) a política. Todavia, em tempos de políticas pervertidas, explodem também religiões pervertidas. Religiões que se aproveitam da fragilidade social e da falta de perspectiva dos cidadãos, que não se sentem representados e escutados na polis, para atribuírem a Deus responsabilidades que seriam dos homens.

E nessa perversão generalizada, não faltam igrejas que vendem esperanças de dias melhores – tanto na terra quanto nos céus – transformando fé em mercadoria, degradando a noção de religiosidade e sagrado, entendendo-as como experiências que podem ser compradas e vendidas.

Na Bíblia encontramos uma passagem – relatada pelos quatro evangelistas – na qual Jesus, indignado e enfurecido, expulsa os mercadores do templo, acusa-os de transformarem uma casa de orações em um “covil de ladrões”. Se acaso Jesus visitasse hoje os templos erigidos em seu nome, certamente, teria muitos mercadores a expulsar e muitos motivos para se enfurecer. Também o ouviríamos dizer muitas vezes: “Dai a Cézar o que é de Cézar e a Deus o que é de Deus”.

2 comentários:

  1. Adorei o texto! eu sempre penso muitas coisas acerca da religião.. e normalmente chego à conclusao de que as pessoas nao sabem definir muito bem o que é religiao e o que é fé. A oferta de religiões hoje em dia é infindável, visto que estamos cada vez mais desamparados. E cada uma constrói seu Deus, o que acaba gerando um conflito de verdades absolutas que gera tristes domingos como o conhecido da Irlanda... Me lembro de um filósofo que dizia: "Aquele que hoje diz crê como eu creio ou Deus te condenará, amanhã dirá crê como eu creio ou irei assassinar-te".
    Parabéns pelo texto. Gostei muito!

    Beijos, Taísa

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  2. Rita,



    Coisas materias não se devem pedir nem a Exu de Lei na Umbanda, se o Pai de Santo e o Filho de Santo tiverem juízo...

    Há pastores que recitam ladainhas ao Deus do Antigo Testamento [caprichoso e suscetível a barganhas, como bom Deus Meteorológico - de Raios e Nuvens que acompanham o Povo Eleito no Deserto ao longo dos dias, e se manifesta como Coluna de Fogo à noite...], "lembrando-O das promessas que fizera aos escolhidos" [sim, reavivando-Lhe a Memória Atemporal...], daquela lista [de promessas] feita aos que Lhe fossem fieis, como nas bênçãos e maldições do Deuteronômio. Se fizerem isso e aquilo, receberão aquilo o outro, segundo a promessa fixada em Letra de Fogo, primeiro na pedra, depois na Palavra Viva, tal como registrada até hoje.

    Bueno..., temos aí uma alternativa imbatível a qualquer aplicação financeira do mercado, uma vez que, na lógica mercantil de tais pastores, as benesses materiais de Deus [um Deus bastante calvinista, eu diria] jorrariam sobre os fieis, juros sobre juros sobre juros, como corolário da obediência à Sua Lei [sobretudo ao dízimo], pela Aliança estabelecida lá atrás e, no entanto Eterna. Sim, pois que Deus é sempre O Mesmo, ontem e hoje [malgrado Seus Arrependimentos e Caprichos no início da Criação...].

    Nessa lógica calvinista, bênção e prosperidade são "sinais necessários e decorrentes de que o servo [!] está em dia com a Aliança estabelecida" [e confirmada, justamente, pelo recebimento das aludidas bênção$].


    Pois bem: restaria explicar porque rappers posudos e blasfemos [alguns oriundos da cafetinagem, por exemplo] ganhariam milhões, assim como narcotraficantes e mafiosos, todos agraciados com as benesses paralelas e simétricas do "Príncipe deste Mundo". Talvez, os tais religiosos estejam a servir o Deus Errado, inadvertida(ou divertida)mente.





    Um beijo.

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