sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A sociedade dos excessos

Por: Rita de Cássia de Araújo Almeida


Em entrevista recente, o juiz Fausto De Sanctis da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, responsável pela prisão de Daniel Dantas, Celso Pitta e de Naji Nahas, ao comentar resultados de estudos sobre a criminalidade afirmou o seguinte: “...o crime realmente é elevado por conta do excesso das pessoas, não das carências. Quanto mais têm, mais querem. O crime em geral se dá pelo excesso, porque as pessoas que têm menos têm tido postura mais digna que as que têm mais”.
Não me surpreendi com a afirmação deste ilustre Juiz. Estamos mesmo na era dos excessos e são estes excessos que ameaçam a vida em sociedade e nossa existência neste planeta. A sociedade dos excessos é o reflexo de nossa economia de mercado, cujo imperativo que ecoa em uníssono é: consuma! Consuma muito, qualquer coisa e a todo tempo! Alimentos, remédios e bebidas alcoólicas. Imagens, modas e informações. Cursos, capacitações e especializações. Drogas, cirurgias plásticas, felicidade e dietas. Sexo, prazer e extravagâncias. Eletrodomésticos, tecnologias, comodidades e luxo. Enfim, consuma qualquer coisa e, principalmente, consuma em excesso!
Muito me preocupa essa nossa vida de excessos, dos excessos nos quais estão mergulhados os nossos filhos. Eu tenho três e tenho tentado ir, o tanto quanto possível, na contramão destes excessos, tentando educá-los de modo que possam suportar as privações sem grandes angústias. Adio e, sempre que posso, resisto à tentação de comprar o que me pedem, mesmo podendo. Procuro educá-los longe das preocupações com moda e beleza e prefiro os bens duráveis aos descartáveis. Não permito que a TV determine nossa rotina familiar. Nos finais de semana e feriados, quase sempre vamos pra “roça” ou para outros lugares de contato maior com a natureza e onde as privações também são maiores. Evito os shoppings e os restaurantes. Sempre que eles me dizem que precisam de alguma coisa, eu intervenho, e os levo a pensar se realmente precisam daquilo ou se na verdade querem aquilo. Se avaliam que não precisam da tal coisa, então combino que podemos planejar e adiar a compra, e o que acontece, geralmente, é que, na semana seguinte, o querer já é outro.
Também vejo com reserva esta filosofia, muito útil ao consumismo desenfreado, de que o importante é viver o momento. Não é por acaso que o slogan da propaganda de certo cartão de crédito é: “porque a vida é agora”. A mensagem é clara: Compre agora! Não importa o que passou, nem como você fará para pagar a conta depois. O risco é grande de cultivarmos um imediatismo superficial por ser carente de passado, e também irresponsável, por não ter compromisso com o futuro.
O fato é que tenho sido uma “mãe má”, capaz de privar meus filhos daquilo que querem para possibilitar que eles desejem. Ah sim! Desejar é muito diferente de querer! Só desejamos o que não podemos comprar. Espero assim, estar contribuindo com este nosso mundo formando seres humanos e não consumidores, sujeitos menos escravos do querer e mais livres para desejar.

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